Último dos filhos
de Manuel Gil Correia Lobão e de Francisca Silva Lobão, amantes da música,
embora já não executantes habituais à data da sua infância e juventude, cresceu
num ambiente em que a cultura musical fazia parte do quotidiano, deliciando-se
entre os sons que o pai tirava do bandolim e bandola na sala grande, com vista
para o mar, e as então já raras incursões da mãe no piano, que marcava presença
numa outra sala, conhecida familiarmente por “quarto de costura”. Nela e junto
ao piano estava uma estante carregada de pautas musicais que já o fascinavam na
busca de decifrar os sons que aqueles sinais das notas musicais queriam reproduzir.
Em muitas tardes,
entre brincadeiras e lazeres, acompanhou o pai na audição dos discos de música
clássica, que ele coleccionava e ouvia com frequência.
Talvez este
ambiente tenha levado a que, sempre mostrasse grande interesse pela música, em
especial o canto, treinando inúmeras vezes a sua voz de criança em músicas do
então famoso “Joselito”, muito em especial a interpretação da “Campanera”, uma
canção muito em voga naquele período, divulgada largamente através do cinema.
Foi um menino dócil,
travesso e irrequieto, a quem era permitida uma liberdade criativa, que
exprimia através das cantigas e teatros que improvisava, animando com a sua
alegria o tolerante ambiente familiar.
Enquanto
permaneceu na Graciosa integrou o conjunto musical do Graciosa Futebol Clube, repartindo-se
entre a bateria e o canto.
Estudou até ao
9º ano na escola básica e secundária da Graciosa tendo seguidamente ido
frequentar o ensino secundário no liceu nacional de Ponta Delgada em S. Miguel.
Aí iniciou os
seus estudos musicais no Conservatório Regional de Ponta Delgada, integrou
grupos corais, nomeadamente o coro da Igreja de São José, partilhando o seu
tempo com as tarefas de estudante do secundário e, depois, com tarefas avulsas
de trabalhos variados e provisórios que lhe iam surgindo. Era também assíduo frequentador
em ambientes nocturnos onde surgiam “caldos” de iniciativas musicais a que ele emprestava
a voz, razão porque o seu nome é referente naquela geração.
A sua grande paixão
era mesmo a música, afirmando querer fazer do canto lírico a sua profissão, o
que no tempo, parecia um futuro extravagante e inseguro. A família, via com
preocupação a inabalável convicção, apoiando-o, sem nunca lhe rejeitar a
vocação.
Um dia zarpou
para Lisboa em busca do coração da música, o Teatro Nacional de São Carlos, o
seu grande sonho por ser o expoente nacional da música lírica. Na capital, as
oportunidades foram aparecendo e o “Chico” Lobão, como por cá é conhecido, não
deixou de as agarrar e alcançar. Apresentou-se a uma audiência onde eram
seleccionadas vozes de valor e foi seleccionado para integrar o coro do teatro,
a mais prestigiada instituição do canto lírico, onde se mantém como membro
efectivo até à actualidade.
Para conseguir os
seus objectivos, aperfeiçoou conhecimentos e os dotes de tenor. Foi convidado
para trabalhar técnica vocal com o professor Cortez Medina e participou em
festivais de verão, tendo sido cantor convidado no Festival Maré de Agosto que
se realiza nos Açores. Foi finalista do Concurso de Canto Juventude Musical Portuguesa
e participou no Concurso Internacional Luisa Todi. Frequentou as Masters
Classes da Cantora Iliana Cotrubas e do Tenor Alfredo Krauss, assim como, os
cursos ministrados pelo professor catedrático e pedagogo Helmut Lips.
Está sempre
disponível para cantar, pelo que fora do teatro São Carlos, integra um
agrupamento, “Bel Canto Latino” que anima musicalmente diversos eventos recreativos
e sociais.
O Chico Lobão é,
na Graciosa, conhecido de inúmeras pessoas pois revela uma grande capacidade de
relacionamento, aliada a um temperamento aberto, afável e sereno. Busca a ilha
durante o verão, pelo menos, de dois em dois anos procurando incutir na mulher
e filhos a estima pela ilha que o viu nascer e que ele tanto ama.
Os graciosenses
já tiveram oportunidade de apreciar os dotes vocais deste cantor em diversos
eventos, de que destacamos, o festival de música do Monte d’Ajuda, onde foi
acompanhado ao piano por Mário Laginha; na festa dos 25 anos do Museu da
Graciosa; num Baile à Moda Antiga na Filarmónica Recreio dos Artistas onde
trouxe um repertório de tangos e milongas; num espectáculo de homenagem a
Joaquim Costa que ele considera uma das mais fantásticas vozes açorianas.
A persistência
do Francisco Lobão na busca da vida que sempre desejou, conseguindo vencer os
entraves que as distâncias e as mentalidades então no caminho colocavam, pode
servir de exemplo aos jovens da nossa ilha que agora iniciam o seu percurso de
vida.